Tecendo Teatralidades | Crítica de Os Fuzis da Senhora Carrar – Grupo Panapanás

por Vendo Teatro
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Foto: Doralice Lopes

Por Cleyton Nóbrega
Revisão Crítica: Luiz Diego Garcia
Recife, Julho 2023

Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.
Bertolt Brecht

Recebi o convite para assistir ao espetáculo “Os Fuzis da Senhora Carrar”, do Grupo Panapanás, dirigido por Foster Costa. A apresentação ocorreu no Teatro da Escola Técnica Estadual Professor Alfredo Freyre e foi aberta ao público. Desde o início, a encenação realizada na escola capturou minha atenção. O espetáculo, fruto do trabalho do grupo dentro da escola, é particularmente notável, considerando que o coletivo é composto por estudantes do Curso Técnico em Teatro subsequente. O evento teve lugar no Teatro da Escola Técnica Estadual Professor Alfredo Freyre, situado no bairro de Água Fria, Recife.

No elenco estavam: Deny Silva, Demar Rodriguez, Gui Urbano, Gusta Henry, Louize de Oliveira e Marcus Carvalho. “Os Fuzis da Senhora Carrar” é uma peça de Bertolt Brecht ambientada durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936. A obra revela aspectos da intimidade da família Carrar e, através da figura da Senhora Carrar, expõe sua resiliência diante da guerra e as diversas estratégias que a matriarca desenvolve ao longo da trama para proteger seus filhos das experiências da guerra e da morte. No entanto, tais esforços não se mostram eficazes diante do desenrolar da história e do eventual envolvimento da própria Senhora Carrar na guerra, utilizando os fuzis deixados por seu marido como herança para lutar.

A opressão da classe trabalhadora e a exploração da mão de obra popular para construir deliberadamente planos e estratégias de guerrilha surgem como contrapontos às interações humanas e à luta de uma mãe pelo direito à vida e à liberdade de seus filhos. O desenrolar do destino acaba envolvendo seus filhos nas guerrilhas, seguindo os passos da mãe.

A encenação empregou recursos simples e criativos para transmitir a sensação de diferentes dinâmicas no interior da casa da Senhora Carrar. Um exemplo é o uso de uma janela como adereço cênico, através da qual a personagem principal observa a vida de seu filho no mar. Isso reflete a superproteção da mãe, que envia um de seus filhos para trabalhar no mar como pescador, a fim de mantê-lo afastado da guerra. Enquanto isso, o outro filho tenta permanecer em casa, mas seus esforços se revelam infrutíferos, assim como a distribuição fluida e bem marcada das entradas das personagens em cena e as tiradas humorísticas que ocorrem quando algumas das personagens do enredo aparecem, como o momento em que o padre visita a casa da Senhora Carrar para lhe dar conselhos.

A iluminação estabelecida dialoga com momentos de luz e sombra, e o papel da Senhora Carrar foi dividido entre dois atores. A voz de um general sai do rádio, fornecendo informações sobre os acontecimentos da guerra. Esse recurso ajuda tanto a mim quanto ao restante do público a compreender que o pano de fundo da narrativa é a guerra e como as violências decorrentes dessa situação afetam a vida das pessoas. O grupo desempenhou muito bem suas funções em cena, com vozes bem projetadas, diálogos afiados e competência. Foi fascinante vê-los atuar; o momento foi tanto divertido quanto reflexivo. Claro, nem tudo foi perfeito, ocasionalmente alguém falava um pouco rápido demais e as palavras não eram articuladas com clareza, mas isso é compreensível devido ao nervosismo e sugere a necessidade de um refinamento maior e de um aumento do repertório cênico do grupo. Há aspectos que só se desenvolvem com o tempo e a experiência, especialmente no teatro.

Que espetáculos como os do Grupo Panapanás continuem a se difundir pelo estado e pelo país, levando adiante questões pertinentes e relevantes para os dias de hoje. O texto de Brecht, mesmo após tanto tempo desde sua escrita, permanece relevante e ganha vida através do comprometimento do coletivo. Evoé.

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