‘Vaquinhas’ virtuais amenizam crise financeira de grupos

por Vendo Teatro
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Por Zé Lucas Bastos

Resistir talvez seja a forma mais adequada para caracterizar o momento vivido pelos profissionais da cultura do nosso país. Sem uma ação efetiva de auxílio para a classe artística por parte da Secretaria Especial de Cultura, neste momento de isolamento social e de atividades culturais suspensas por tempo indeterminado, os artistas buscam manter os espaços culturais e pagar as despesas através de financiamentos coletivos, as famosas ‘vaquinhas’.

Márcia Cruz, da Casa Maravilhas

Nas redes sociais, não é raro ver as campanhas sendo divulgadas e artistas pedindo contribuições. Os grupos recifenses também aderiram ao método. A Casa Maravilhas, após paralisar as aulas de teatro e dança oferecidas no espaço, iniciou uma campanha de financiamento coletivo para pagar a manutenção da sede situada no bairro da Boa Vista por 3 meses, como explica Márcia Cruz: “Quando começamos essa ação, imaginamos que em junho já poderíamos retornar a vida normal. Porque, na verdade, quando tudo aconteceu a gente não podia dimensionar o impacto. Mas agora a gente se dá conta de que seremos os últimos a voltar. Damos conta da segunda e terceira ondas. Vai impactar nos nossos trabalhos. Agora estamos indo por partes, um dia por vez”.

Dados para doar para a Casa Maravilhas

O Espaço O Poste, fundado em 2014, também recorreu à uma campanha de financiamento coletivo para a manutenção da sede. Através do Catarse, o espaço busca manter aberto o local onde realiza cursos, festivais, projetos pedagógicos como a Escola de Antropologia Teatral,espetáculos de dança , teatro e música.

Tadeu Gondim, do Coletivo Angu de Teatro

Além da Casa Maravilhas e do Poste, o Coletivo Angu de Teatro também está com uma ‘vaquinha’ virtual aberta, mas os integrantes do grupo optaram por uma forma diferente de arrecadação. “No nosso caso, não é bem um financiamento coletivo. Abri um evento no Sympla para que as pessoas que queiram nos ajudar possam ‘comprar’ ingressos para as nossas lives, que são livres. É uma contribuição espontânea”, explicou Tadeu Gondim, um dos integrantes do Angu. O objetivo do Coletivo é pagar o aluguel do galpão onde guarda os cenários de todos os espetáculos. “Sempre assumimos essa despesa sem grandes problemas, mas como nosso setor parou, e não temos ideia de quando voltaremos, pensamos nessa ação. Por menor que seja o valor que entre já é uma ajuda”, concluiu Gondim.

Recentemente, o Espaço de Artes Rodrigo Lira, localizado no bairro Ibura de Baixo, foi mais um espaço artístico que lançou sua ‘vaquinha’ virtual (doe aqui). O Espaço foi inaugurado em 2012 e promove atividades sócio-culturais para alunos bolsistas, oferecendo atividades como Teatro, Dança e Artes Marciais.

Para atrair doadores e conseguir atingir os 100% da meta estabelecida, cada companhia cria atrativos diferentes. A Onze Produções Artísticas, por exemplo, está dando brindes como copos, chaveiros, bolsas para quem contribuir para manutenção da sede (doe aqui). Pensando em oferecer recompensas aos doadores, a Casa Maravilhas criou uma rede de colaboração. “Convidamos para fazer parte dessa ‘vaquinha’ quatro parceiras empreendedoras. Nós propomos parceria para essas mulheres porque a gente queria oferecer brindes, mas queria também fortalecer o comércio local”, explicou Márcia Cruz.

Já a Escola Pernambucana de Circo (doe aqui) seguiu ao pé da letra o que compôs Milton Nascimento em Bailes da Vida e decidiu levar o circo até o público, fazendo um total de 30 apresentações em frente às casas de comunidades da Zona Norte do Recife. Pelas janelas, terraços, varandas os moradores dessas comunidades assistirão a um espetáculo sobre a lavagem correta das mãos, a importância do uso da máscara e do álcool em gel. Além disso, a Escola também distribuirá kits de higiene para as famílias.

Os resultados dos financiamentos coletivos, felizmente, são bem promissores. A campanha da Escola Pernambucana de Circo, até o fechamento desta matéria, já arrecadou 98% da meta. A Casa Maravilhas, segundo Márcia Cruz, conseguiu 80% do total que almejam. Já a Onze Produções Artísticas está chegando aos 50% do montante pretendido, enquanto o Poste está chegando aos 30% de arrecadação. A adesão às ‘vaquinhas’ é motivo de comemoração. “Tem sido muito importante este movimento de dar as mãos porque estamos muito soltos, não só pela instabilidade que o vírus causa como também pela instabilidade política que não nos dá uma segurança de enfrentamento rápido dessa situação”, refletiu Márcia.

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