“Tomate não é de comer” dá a volta por cima e estreia no Cênicas

por Vendo Teatro
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Ontem (18), no Espaço Cênicas, estreou a peça Tomate não é de Comer. Com produção de Evandro Filho e Bero Andrade, que também assina a dramaturgia, o espetáculo reflete sobre o que Bero considera os três temas principais da história: maternidade, religiosidade e assassinato de crianças LGBTQIA+. Este último tema veio a partir dos crimes que Bero tomou conhecimento, em especial o da menina trans cearense Keron Ravach. Neste domingo, às 17h, acontece a última apresentação. Não podemos esquecer de dizer que essa estreia aconteceria no Morro da Conceição, mas a produção sofreu um golpe.

Tomate não é de Comer é o resultado da vontade de Bero e Evandro de criarem juntos e, graças à aprovação no Recife Virado 2021 e no Prêmio de Criatividade Bráulio de Castro, neste sábado, essa vontade se tornou real. Ao todo, a equipe conta com dez pessoas: 5 mulheres cis, sendo três pretas; 3 travestis pretas e 2 homens cis. A formação deste grupo foi pensada pelos dois rapazes de forma estratégica: “O que norteou nossa escolha para formar a equipe foi priorizar pessoas em situação vulnerável e acreditar na competência e capacidade delas”, explicou Bero.

A peça traz a história de Samuel, um menino devoto à Nossa Senhora da Conceição e filho Nadja, uma mulher negligente e narcisista que teve uma gravidez indesejada. Completando os personagens há o homofóbico tio Damião. Mas, para chegar ao texto final, o autor lembrou que a semente do Tomate foi plantada em uma performance com temática LGBTQIA+ que ele apresentou no Club Metrópole. Mais tarde, a ida à festa do Morro da Conceição e a própria vivência periférica também serviram de base para a dramaturgia.

Foto: João Fernando Bonfim

Por desejarem fazer um espetáculo voltado para a periferia e por ter uma presença muito forte de Nossa Senhora da Conceição, os produtores não tiveram dúvida quando optaram por estrear em um espaço no Morro da Conceição. “Queríamos fazer um espetáculo voltado para a periferia porque a gente pensa que esta é a melhor forma de se fazer teatro. Não adianta fazer mais para os mesmos. É chegar em quem geralmente não chega. Por isso surgiu a vontade de ir para o Morro da Conceição”, explicou Andrade. Contudo, nem tudo saiu como planejado.

Inicialmente, o responsável pelo espaço locado para a apresentação se mostrou muito simpático e a produção criou uma relação amistosa e de confiança com ele. Foi acertado o valor do aluguel, como o espaço estaria no dia da estreia e os objetos técnicos necessários para a peça. Dias antes da apresentação, o locatário começou a negligenciar o grupo e depois sumiu, reaparecendo para pedir o pagamento do aluguel antecipado para reformar o teto do local, devido às chuvas fortes do Recife.

Por sentirem confiança no locatário, os produtores pagaram o valor acertado, mas a situação piorou. Segundo Bero, dias antes da apresentação, o locatário dificultou a divulgação da peça. “Comecei a perceber que ele não tinha a intenção de apresentar aquela história para o Morro”, comentou Bero.

Já no dia da estreia, o locatário não apareceu e deixou as chaves do espaço em uma padaria. Ao entrar, o grupo se deparou com um local totalmente inóspito. Vidros quebrados pelo chão, fezes de animais, vasos sanitários sujos, teto sem estrutura para os LEDs. Mesmo assim, a equipe decidiu esperar, ligou para o responsável e este não se mostrou favorável a um acordo, além de não acreditar que estava errado.

Depois de todo o contratempo e frustração, por meio do perfil oficial do espetáculo no Instagram, a equipe decidiu expor a situação e alertar os outros colegas da classe artística e, inclusive, os moradores do Morro da Conceição. “Mesmo que isso signifique que a gente vá mostrar nossas vulnerabilidades, a gente acredita que é assim que se deve fazer. O que aconteceu precisava ser dito, ser mostrado”, salientou Bero. Além disso, a produção precisou encontrar um novo espaço para estrear e foi muito bem recebida pelo Espaço Cênicas.

Até o fechamento desta matéria, o caso ainda não tinha sido resolvido.

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