ENTREVISTA: “Um belo folhetim”, define Guilherme Leme Garcia sobre o espetáculo “O Estrangeiro_Reloaded”

por Vendo Teatro
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Foto: Gustavo Leme/Divulgação

Por Paulo Ricardo Mendes

Neste fim de semana o espetáculo “O Estrangeiro_Reloaded”, dirigido por Vera Holtz e com encenação de Guilherme Leme Garcia, chega ao Recife para duas sessões, nos dias 24 e 25, no Teatro do Parque. Após 15 anos, desde a última apresentação realizada no Festival em Edimburgo, na Escócia, a montagem retoma aos palcos trazendo uma nova roupagem para o livro do escritor, jornalista e filósofo franco-argelino Albert Camus. A obra, publicada em maio de 1942, em meio à Segunda Guerra Mundial, foi considerada um divisor de águas na história da literatura, pois representava uma ruptura formal com o romance do século 19 e, além disso, uma nova forma de compreender o mundo, que sairia transformado após o final do conflito.

Na trama, Meursault, o personagem central de “O Estrangeiro” leva uma vida banal; recebe a notícia da morte da mãe, comete um crime, é preso e julgado. Em meio à controversa relação entre o indivíduo e a lei, assistimos a um drama que pode ser lido como o sofrimento de qualquer pessoa que se depara com o absurdo da existência, ponto central da obra de Albert Camus. “Quinze anos se passaram desde que desenhei Mersault na primeira montagem. Nesses anos tanta história se passou no mundo e na minha vida, que é quase impossível pensar essa peça e esse personagem sem contar com tantos novos desafios que se apresentam frente ao nosso pensamento. Uma nova encenação se faz necessária para que a visualidade cênica venha cheia de vitalidade e atualidade”, diz Leme Garcia sobre a nova montagem.

Prestes a desembarcar no Recife, o ator Guilherme Leme Garcia conversou com a Vendo Teatro sobre a retomada do espetáculo, desafios e as expectativas para a apresentação na cidade. Confira abaixo:

VT: Como surgiu a ideia de retomar aos palcos com o espetáculo “O Estrangeiro_Reloaded”?

Guilherme Leme: Nós estreamos o espetáculo em 2009, no Rio de Janeiro, no Sesc Copacabana e ficamos com a peça quase quatro anos em cartaz. Circulamos pelas capitais e pelo interior do Brasil, finalizando a temporada no Festival na Escócia. Passaram 15 anos, muitos monólogos foram feitos e muitas peças escritas. Guerras aconteceram, veio a pandemia, o nosso olhar mudou e o do mundo também. Quando o Teatro Vivo, de São Paulo, convidou para fazer uma temporada lá em junho/julho, conversei com a Vera Holtz, que dirige a montagem, sobre a possibilidade de fazer a peça de novo. Deixei claro que não queria fazer nada igual e ela também disse o mesmo. Então topamos fazer essa nova versão com tudo diferente: cenário, luz, trilha, encenação e interpretação.

VT: O que o público pode esperar desta nova roupagem?

Guilherme Leme: Essa nova montagem é mais visceral e potente. O Estrangeiro_Reloaded é um folhetim mais bem contado, o público consegue se envolver mais na história.

VT: Qual o desafio de realizar esse espetáculo há 15 anos e de trazer ele de volta aos tempos atuais?

Guilherme Leme: Na primeira vez o desafio era colocar em cena o Albert Camus, porque ele é um dos grandes escritores da literatura mundial e ganhou o Prêmio Nobel. E este livro é o mais importante de sua obra. O Estrangeiro foi um pontapé no movimento existencialista, então foi um desafio grande levar essa complexidade e profundidade do texto para o palco, apesar de fácil, simples de ler e ouvir. Na segunda vez, o desafio foi de como fazer o mesmo texto de uma maneira totalmente diferente.

VT: O livro de Albert Camus evoca muito da visualidade, como foi projetar isso no espetáculo?

Guilherme Leme: Na montagem estou numa caixa preta e o banco é o único objeto em cena, que se transforma em formas e propõe os lugares que o personagem está, como no enterro da mãe e no tribunal. O banco vai desenhando toda cenografia, mas talvez a parte mais forte seja a iluminação, que desenha o espaço lindamente.

VT: Enquanto artista, o que mais te fascina nesta obra de Camus?

Guilherme Leme: É interpretar um homem que é totalmente avesso as regras sociais, a politica e a religião. É um homem cru, nu, verdadeiro, amoral. E por ser desta forma, ele é livre. Fazer esse personagem é muito delicado, porque ele é ligado aos sentidos dos seres humanos, a sua parte mais animal.

VT: Como surgiu essa parceria com a Vera Holtz?

Guilherme Leme: Sou um parceiro da Vera desde os anos 90, a gente já trabalhou em novelas. Depois viajamos juntos, também somos apaixonados por artes visuais, vamos a festivais e exposições fora do país. Eu já dirigi a Vera e ela me dirigiu. Temos uma parceria artística muito forte, então é um grande prazer estar com ela. A gente sabe ceder porque um acredita no outro e no olhar do outro.

VT: Como tem sido a receptividade do público com a retomada do espetáculo?

Guilherme Leme: Tem sido maravilhosa, as pessoas se encantam pelo espetáculo, ao mesmo tempo ficam intrigadas, porque é um texto denso. As pessoas vem me elogiar dizendo que é um espetáculo maravilhoso, mas que tirou elas do eixo e que ficarão pensando em tudo que foi visto.

VT: Qual a expectativa para as duas apresentações de “O Estrangeiro_Reloaded” no Recife?

Guilherme Leme: Esperamos que o público do Recife abrace o espetáculo. É uma montagem com um novo olhar, recarregado de novos sentidos, então gostaria que o público comparecesse e se desse conta da grandiosidade desta obra-prima.

Serviço:

Espetáculo “O Estrangeiro_Reloaded”
24 e 25 de Agosto, às 19h
Local: Teatro do Parque, no Recife
Duração: 70 min
Classificação: 16 anos
Ingressos: R$120 ( inteira) // R$ 60,00 ( meia – entrada)
Vendas: SYMPLA

*Conteúdo Incentivado pelo Funcultura

Vendo Teatro – Incentivo Funcultura 2022/2023
Proponente, coordenadora e criadora de conteúdo: Aline Lima
Produção Executiva: Sabrina Pontual
Críticos teatrais: Luiz Diego Garcia
Cleyton Nóbrega
Lucas Oliveira
Gabrielle Pires
Coordenador crítico: Luiz Diego Garcia
Jornalista: Paulo Ricardo Mendes
Designer Gráfico: Allan Martins

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