Foto: Rogério Alves/Divulgação.
Por Luiz Diego Garcia.
Outubro de 2019.
Teatro Para Libertação
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”
Paulo Freire
“pa(IDEIA) – pedagogia da libertação” do Coletivo Grão Comum inicia antes de abrirem as portas do teatro, quando o ator Júnior Aguiar (em uma interpretação acalante) vai até o hall do teatro e conversa com os pequenos grupos de público que ali estão reunidos. Aguiar escreve uma palavra na mão daqueles que permitem e sugere uma transformação de troca a partir de tal. O processo de acolhimento está então iniciado.
O público é convidado a entrar, subir ao palco, e abraçar os que estão ali, compartilhando daquele espetáculo. Um mapa do Brasil está desenhado em giz no chão. A hipérbole escolhida daqueles abraços ao redor do país muito revela sobre o tema do trabalho, da luta da personagem principal em trazer ao Brasil, nação aqui plural e sabida múltipla, mas também sobre como Aguiar (aqui também diretor do espetáculo) concebe o trabalho de forma condizente com a teoria da personagem trazida à cena: Paulo Freire vive, multifacetado e icônico; ele vive.
Com uma espécie de biografia anunciada a figura de Paulo Freire é inicialmente apresentada num momento delicado, numa prisão, num intimidador contexto de interrogatório. O espetáculo daí transita pelo exílio da figura de Paulo Freire ao longo da ditadura militar, e também apresenta o desenvolvimento do trabalho de Freire postulado ao debruçar dos continentes em que viveu. A força das palavras pacíficas do Paulo Freire que Daniel Barros — concentrado e aberto a o jogo — traz à cena contrastam com o trabalho realizado por Aguiar em diversos momentos, promovendo então um entrelace íntimo com o trabalho que segue. Mostram-se humanos, por mais que a palavra humanidade aqui pareça tola e óbvia.
Há muitos tolos e óbvios que não se sabem humanos.
Segue então a prática da pedagogia de Paulo Freire sendo posta em cena de forma que o público se sinta mais próximo, sendo questionado, sendo posto, mesmo que por pouco tempo, como centro do processo dessa arte-aprendizagem; o teatro do Coletivo Grão Comum, neste espetáculo, pensa-se múltiplo, não apenas artístico, mas principalmente potente e modificador. Responsável e direto, “pa(IDEIA)…” experimenta-se propulsor cultural.
Então seguindo para seu desfecho, há embate, há contraste de ideias, há de se aprender a ouvir. Como um totem universal do caminhar da educação, Paulo Freire e seu trabalho dispensaria apresentações caso os tempos não estivessem tão mal torcidos, amassados, como roupas amontoadas no cesto; Paulo Freire precisa chegar, precisa retornar. E ele pode ser visto de perto, aproximado e aproximando em “pa(IDEIA)”.