Foto: Divulgação
Estive reflexivo e curioso durante boa parte do tempo em que soube que retornaria ao Teatro do Parque, para apreciar mais um espetáculo que compôs a programação do 31º Janeiro de Grandes Espetáculos. Nesse caso, o trabalho que tive a honra de apreciar foi “Quem Está Aí? Monólogos de Shakespeare”, que passou por cidades como Curitiba, Recife e Aracaju. O trabalho trata-se de um monólogo interpretado pelo excelente ator Thiago Lacerda, que encantou todo o público presente no teatro.
O texto foi adaptado a partir de três obras de William Shakespeare, poeta, dramaturgo e ator inglês do século XVII, trazendo personagens extraídos de algumas de suas obras: “Hamlet”, “Medida por Medida” e “Macbeth”. A partir das cenas do monólogo, divididas entre pausas — advindas de blackout, aliado à trilha sonora e projeções do ator interpretando diferentes protagonistas entre passagens de cenas.
Tivemos três personagens que ganharam vida por meio da multifacetada interpretação do ator: Hamlet, que com a faca na garganta do rei, confessa suas dúvidas e incertezas; Ângelo, o juiz puritano, que nos revela sua corrupção e podridão moral através de suas torpes ações; e Macbeth, o rei assassino, que nos apresenta todo o horror que sente consigo mesmo como fruto de suas próprias atitudes sanguinolentas.
A direção do trabalho é de Ron Daniels, que também divide a tradução com Marcos Daud. Música de Jordi Savall, e na direção de operação de vídeo e som, Alexandre Ostrovisk, com direção técnica de Marcos Loureiro, operação de luz por Ademir Muniz, direção de produção de Érica Teodoro e realização da Ibirapitanga e Pentâmetro Produções Artísticas.
Tive a oportunidade de assistir à encenação com um grande amigo, que se empolgou tanto quanto eu com o trabalho de Lacerda. O ator, afiadíssimo em sua interpretação, mostrou-nos diversas dinâmicas gestuais, vocais e de pensamentos de suas personagens, levando-nos a esquecer do tempo durante todo o desenrolar do enredo. O público ficou tremendamente envolvido pelo trabalho e seu intérprete. O ator estava vestido com uma roupa em tons de cinza e verde, e a iluminação permeava-se por tons amarelos e alaranjados. A maior parte da encenação é feita com o ator sentado numa cadeira. A projeção do rosto do ator ao fundo fazia com que as pessoas que estavam mais distantes pudessem vislumbrar os detalhes de suas expressões durante a interpretação. Foi instigante. Algumas pessoas emocionaram-se, inclusive eu. Refleti, até esse ponto, durante a experiência, sobre o quanto o texto de Shakespeare é atemporal e verdadeiro, revelando-nos meandros interessantíssimos sobre o caráter humano, suas ações, dissimulações, belezas e feiuras.
Um momento arrebatador foi quando o microfone que Thiago Lacerda estava utilizando falhou por diversas vezes. Ele, de prontidão, levantou-se, tirou o microfone e seus demais equipamentos de seu corpo e foi ovacionado pela plateia. Foi arrepiante! Sinto-me privilegiado por ter admirado um trabalho teatral tão primoroso, e que bom que o público que encheu o teatro também teve essa oportunidade. O ator, ao final do espetáculo, depois dos aplausos, agradeceu o carinho das pessoas de Recife, ressaltou a beleza do Teatro do Parque e disse-nos que nunca havia se apresentado ali, prometendo que voltaria em breve à capital. Pois que venha! Vida longa a “Quem Está Aí? Monólogos de Shakespeare”. Evoé!