O Véu da Fantasia: Harmonias Noturnas | Crítica de Cabelos Arrepiados

por Vendo Teatro
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Foto: Divulgação

Por Luiz Diego Garcia
Recife, Maio de 2024

No último domingo, dia 26 de maio de 2024, os holofotes da cena teatral em Recife se voltaram para a aguardada apresentação de “Cabelos Arrepiados”, uma produção amazonense que funde elementos de opereta e teatro musical, dirigida por Tércio Silva e apresentada pela Buia Teatro Company no Festival Palco Giratório.

O espetáculo, que traz uma abordagem poética, metafórica e divertida dos devaneios e medos das crianças teve um atraso que ultrapassou os 30 minutos além do horário previsto, foi uma surpresa desagradável para o público presente, que se mostrou, no entanto, paciente e compreensivo. Porém, os reflexos dessa demora se estenderam para além do desconforto momentâneo. O festival, que contava com uma programação diversificada, viu sua grade horária comprometida, impossibilitando alguns espectadores de comparecer a outros espetáculos que aconteceriam logo depois da apresentação de “Cabelos Arrepiados”. Esse imprevisto, embora não tenha afetado diretamente a qualidade da produção, certamente deixou sua marca na experiência dos presentes.

“Cabelos Arrepiados” mergulha, de maneira ímpar, no universo onírico das crianças, desvelando angústias e medos por meio de uma estética peculiar, onde o expressionismo alemão se entrelaça com o imaginário de artistas renomados como Tim Burton e Edgar Allan Poe. O espetáculo, dotado de personagens excêntricos e atmosfera envolvente, propõe uma reflexão profunda sobre solidão, medo e a delicada teia de diálogo entre pais e filhos.

Os atores da Buia Teatro Company, em uma performance magistral sob a batuta de Tércio Silva, conseguem transitar com maestria pelos múltiplos códigos estéticos propostos pela encenação. A interpretação sensível de Tico, aqui transformado em um boneco habilmente manipulado, e do Doutor X, o emblemático charlatão que encarna o medo, acrescenta uma camada adicional de profundidade emocional à narrativa.

Além do virtuosismo das interpretações, o espetáculo destaca-se pela exuberância de sua produção visual, com figurinos meticulosamente elaborados, maquiagens exuberantes e um jogo de luz envolvente. A cenografia, metamorfoseando-se em um bailado mágico, adapta-se às distintas nuances da história, conferindo uma atmosfera de encantamento à jornada dos personagens, enquanto a trilha sonora ao vivo tecida pelos artistas complementa com maestria o fluxo onírico da narrativa.

No entanto, a referência a Tim Burton, embora singular, por vezes ameaça transmutar-se em imitação. Além disso, a duração prolongada do espetáculo, aliada ao atraso em sua apresentação, pode ter contribuído para um desgaste na plateia, especialmente entre os espectadores mais jovens.

Em síntese, “Cabelos Arrepiados” é uma ode aos mistérios da infância, apesar dos percalços que marcaram sua apresentação inaugural. Com sua estética exuberante e performances tocantes, esta obra oferece uma experiência teatral que ressoa na alma, reafirmando a importância da diversidade e da profundidade no universo do teatro para as infâncias.

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