O Pornô Bordô das Minhas Meninas | Crítica sobre “Tudo que é bonito é bordô”

por Vendo Teatro
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Por: Luiz Diego Garcia.
Foto: Leandro Lima

Junho de 2019.

O Pornô Bordô das Minhas Meninas

Portas abertas. Vê-se a paleta variada do rosa-choque e seus contrastes com o preto, três atores em cena e uma atriz. Quatro atrizes (melhor assim) em cena para pensar no coletivo feminino que habita a obra contrastante de “Tudo que é Bonito é Bordô”; através do preto-choque-rosa são contados contos de conteúdo pornográfico-satírico da renomada escritora Hilda Hilst que tem na sua coletânea de contos impactantes e transtemporais o pináculo da sua fama controversa. Durante o espetáculo as atrizes nos arreganham por inteiro: mostram desde trechos biográficos de Hilst em entrevistas até momentos de pura comédia escrachada, mas não menos politizada, embebida de renovada Trupe do Barulho.

As jovens atrizes Carlos Lima, Gaby Suamy, Mayk Moura e Ytalo Santana pisam em cena da forma que sabem, jogam com improviso, usam de referências pitorescas/presidenciais e até ensinam receita. Em momentos da mais estilizada caricatura, Mayk Moura dobra e desdobra a plateia em risos com seu mais impiedoso domínio vocal, estilhaça gargalhadas nervosas em meio ao silêncio e se diverte. A elenca inteira está em cena para jogar o jogo perigoso que se estabelece na comédia política: fazer rir do absurdo que habita no real. Sem cerimônias Carlos Lima e Gaby Suamy esbaldam-se numa cena em que duas velhinhas lambuzam sexo pelas camisolas; Ytalo Santana atinge as defesas sociais numa alegórica ursa-recatada-do-lar não menos potente. E se divertem, minhas meninas se divertem muito.

Ao longo da encenação é sentida a tribulação do timming cômico, que ora faz rir, ora
faz rir mais, ora pensa Hilda, ora vomita memes, ora precisa respirar, por vezes tenta mais do que consegue, mas sempre pensa junto. Encenada por Analice Croccia, que assina a direção junto à Ellis Regina, “Tudo que é Bonito é Bordô” abraça o universo do feminino e LGBTQ+ de forma deliciosa e responsável; o dedo do professor-orientador da disciplina que serviu de embrião para o espetáculo, Marcondes Lima, é visto por todo lado, do horizonte que se desbrava tematicamente até o macarrão de piscina e liquidificador que são levados à cena em forma kitsch-camp.

“Tudo que é Bonito é Bordô” vale ser apreciada com abertura e leveza pela sua intencionalidade de tornar tão pública quanto um banheiro químico a obra de Hilst; da forma que se faça mais e mais duramente pulsante e constante esse plantar de viagra nos vasos do público.

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