Foto: Divulgação
Por Cleyton Nóbrega
Revisão Crítica: Luiz Diego Garcia
Recife, Janeiro 2024
[…] Dama da noite,
Santa Madalena lhe proteja.
Em qualquer lugar, em qualquer aflição,
Que você esteja […]
Edith Veiga
Era uma noite bastante quente, na Cidade do Recife, pleno mês de janeiro. Cheguei ao Teatro Apolo, na parte mais antiga do centro da cidade. Tive a oportunidade, nessa ocasião, de assistir ao espetáculo “As Dinossauras” da Cia Tradicional Fazendo Arte, como parte da 30ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos.
Por meio do espetáculo, tive a excelente experiência de conhecer um pouco mais sobre a história da cena das noites cálidas e boêmias da cidade, sendo elas, por inúmeras vezes, embaladas pela apresentação de múltiplos artistas. Foi, sem dúvida, uma noite memorável de muito brilho, arte, diversão, risadas, aplausos e também de trazer à pauta da cena teatral pernambucana a latência, luta e perseverança das pessoas LGBTQIA+.
Em cena, tivemos: Márcia Vogue, Odilex, Cristiane Falcão, Sharlene Esse, Salário Mínimo e Raquel Simpson, que de maneira brilhante e diversa, abrilhantaram a noite e o espetáculo. Era difícil não rir ou se emocionar durante a apresentação do trabalho que foi dividido em esquetes, onde cada uma delas era preenchida pelo bem composto trabalho de seu elenco e suas singulares aptidões na cena.
Fomos recepcionados por uma projeção no palco, onde tínhamos ao fundo um Tiranossauro Rex de frente à bandeira LGBTQIA+, e posteriormente, todo o elenco apresentou-se ao público em figurinos que traziam diversos tons de vermelho, envoltos em strass, plumas e paetês. Esse momento foi, de fato, emocionante. O público encheu a plateia do teatro, interagia, gargalhava, aplaudia. Reparei nos rostos das pessoas e em como elas estavam ali, imersas, vibrando e esperando a próxima novidade das cenas que eram desveladas para nós.
A excelente iluminação do palco em tons vermelho, azul, rosa e amarelo, predominantemente, dava um excelente contraste aos figurinos e terminava por combinar com os demais adereços que nos eram apresentados no decorrer da encenação.
Em vários momentos ocorreram as dublagens de músicas. Esses momentos eram sempre acompanhados por números de dança ou performances durante a apresentação. Elas nos falaram sobre histórias curiosas, peculiares e do quanto algumas delas resistem e tiveram que resistir, sobreviver, por exemplo, aos tempos da ditadura militar. Permaneceram nos explicando como elas foram deixando sua marca na cena da noite e dos espetáculos teatrais pernambucanos. Incluindo sempre o público na encenação, vivemos momentos de leveza e muita diversão. Foi uma experiência excelente; mal sentimos o tempo passando.
O espetáculo traz o viés político de afirmação da representatividade de artistas transformistas e da cena LGBTQIA + pernambucana, demonstra-nos o fôlego artístico do grupo que, de maneira leve e engraçada, acabaram revelando-nos ecos de violências sofridas no passado e na atualidade, sendo ressignificados pelo riso, o glamour. Como, por exemplo, a esquete de Salário Mínimo, que muitas risadas tirou do público ao entrar no seu Fusca rosa, saindo sem rumo da cena, buzinado o carro cênico.
Foi muito interessante observar por meio das apresentações a criatividade do grupo na criação das esquetes, que, em alguns momentos acabaram demorando um pouco da passagem de uma para outra, dando sensação de alguns buracos, algo que elas conseguem tirar de letra, aprimorando o espetáculo para apresentações futuras.
E no final, o elenco foi aplaudido de pé e convidou todos os presentes a tirarem fotos e darem risadas na frente do teatro. Estou ansioso para que ocorram novas oportunidades de assistir ao espetáculo, para levar os amigos e a família aos teatros para assistirem “As Dinossauras” e assim deliciarem-se com o movimento e arte dessas incríveis Damas da Noite.