Foto: Divulgação
Por Cleyton Nóbrega
Revisão Crítica: Luiz Diego Garcia
Recife, Abril de 2023
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
Antoine de Saint-Exupéry
Ganhei há alguns anos o livro do Pequeno Príncipe de uma grande amiga. Esse livro chegou nas minhas mãos depois que essa amiga retornou de uma grande viagem, confesso que eu nunca tinha tido real interesse na obra, pois ela me comentou que era uma obra infantil, mas que mesmo assim, tinha uma relevância muito grande para sua vida. Acabei levando um tempo para ler o livro, mas agradeço a minha amiga que me fez perceber através desse gesto algo invisível aos olhos.
Foi no Teatro do Parque, no dia 23 de março, que houve a apresentação especial do espetáculo O Pequeno Príncipe. Fiquei refletindo através da peça sobre a minha relação com a minha criança interior e de como os panoramas que temos com nossa imaginação nesta fase da vida, acabam refletindo em nossa personalidade na idade adulta. O espetáculo musical do Cênicas Cia de Repertório fez parte do 29º Janeiro de Grandes Espetáculos de 2023 e ganhou três prêmios: o de melhor espetáculo, melhor ator, Beto Steremberg e melhor iluminação, Luciana Raposo.
A experiência de ter assistido a peça foi muito encantadora, o público que aguardava ansioso para assistir era composto, em maioria, por diversas famílias que, ansiosas e empolgadas, batiam palmas e gritavam pedindo que a apresentação começasse.
A iluminação ajudou e o uso de cores que delimitava o sentimento das personagens ou a passagem de cenário de um lugar ao outro começou a fazer com que eu entrasse na atmosfera da encenação; foi fascinante ver como a dinâmica de cores em cada cena era bem definida. O figurino era bem criativo, a maioria das personagens tinha o figurino bem parecido com as das ilustrações do livro, ajudava a entender um pouco mais sobre as personalidades das personagens e a atuação dos atores era muito vivida, entre as falas e as partes em que cantavam junto a banda.
Com algumas estratégias cênicas simples como, por exemplo, o uso de guarda chuvas na passagem de uma cena para outra, a banda tocando ao vivo junto com os atores e alguns outros adereços cênicos, chapéus, uma escada que é utilizada no meio do espetáculo, dentre outros adereços que são bem semelhantes às descrições e desenhos do autor do livro “O Pequeno Príncipe”, Antoine de Saint-Exupéry, o enredo foi se desenvolvendo e cada vez me percebia o quanto a história é tocante e emociona, fala sobre a inocência e a descoberta do mundo por nós quando crianças, revela o quanto os adultos em muitas situações estão tão cheios de problemas e compromissos que esquecem de apreciar a beleza da natureza, o encontro com os amigos, ou até mesmo olhar para as estrelas..
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, lição ensinada pela Raposa ao Príncipe, faz pensar nas relações de amizade e os afetos que desenvolvemos com amigos, animais e familiares no decorrer das nossas vidas, a maneira delicada em que a peça é feita e a atuação do Beto Steremberg emocionam, como quando ele sai viajando pelo universo levado pelos pássaros enquanto a banda canta e toca, ou quando ele tem um belíssimo dueto com a Rosa falando sobre saudade e descoberta do mundo.Me peguei com os olhos marejados próximo ao fim da apresentação.
Participar desta experiência foi fascinante, me colocou a pensar na sorte que temos em participar da vida das pessoas e no quanto é surpreendente viver e tentar ver o mundo pela ótica da infância, da gentileza e empolgação de nossa criança interior. Às vezes a idade adulta faz com que as pessoas fiquem cheias de afazeres, compromissos e acabam se esquecendo de viver em plenitude, com leveza, entretanto acredito que o espetáculo faz com que passemos a perceber que a real beleza da vida pode estar presente no desenho de um carneiro, em uma flor, nos asteróides e cometas, ou num abraço que damos na nossa mãe, no bom dia que damos ao motorista do coletivo, pois o essencial é de fato invisível aos olhos.