A magia do espetáculo e o xote da alegria | Crítica de O Matuto

por Vendo Teatro
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Foto: Max Levay/Divulgação

Por Paulo Mendes
Revisão Crítica: Luiz Diego Garcia
Recife, Junho de 2023

“Educar através do circo é transformar os ensinamentos em magia, as dificuldades em malabarismo, o improvável em realidade e a vida em alegria.”
Circo Social Alchymist

Lembro de que quando era criança meus pais faziam questão de me levar para assistir espetáculos infantis no Teatro do Parque, no Recife. Aqueles momentos de certa maneira me marcaram, primeiro porque era um evento onde a família estava reunida e segundo pelo universo mágico, divertido e lúdico que somente a arte poderia proporcionar, e isso para uma criança era um prato cheio. Desconfio que seja por isso também que tomei gosto pelo teatro e tudo que permeia o universo cultural. Anos se passaram e cá estava assistindo novamente um espetáculo infantil, dessa vez já adulto. A peça em cartaz era “O Matuto”, que cumpriu uma curta temporada no Teatro Fernando Santa Cruz, no Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda. 

As lembranças me vieram à tona, antes mesmo de iniciar a apresentação. Era uma tarde de domingo nublado e no corredor do Mercado havia uma movimentação de famílias, amigos e crianças, aguardando adentrar ao teatro – para ficar completo só faltou o pipoqueiro e o seu carrinho, com as pipocas que aguçavam o olfato e o paladar de qualquer pequeno. Mas o fato é que, observando aquela cena na minha frente que antecedeu o espetáculo, foi impossível não revisitar outrora. 

Após quase meia hora de atraso, a peça iniciou para a alegria da criançada e do público presente. Em cena, Raphael Santacruz apareceu remetendo à imagem de um retirante, a observar pelo figurino; já a maquiagem mais marcada e expressiva trouxe uma percepção circense e de mistério, contrapondo com os trejeitos bobos e caricatos; que de imediato arrancou risos da plateia. Ao interpretar “O Matuto”, personagem criado pelo artista e de concepção do projeto juntamente com Christianne Galdino, Raphael traz elementos da palhaçaria associados também ao ilusionismo, com textos improvisados, no entanto, sendo predominante a linguagem corporal. 

Acompanhado de uma mala durante o espetáculo, “O Matuto” vai apresentando vários objetos que ajudam a compor os números de ilusionismo e agregam humor para as cenas, desde uma corda que se multiplica num toque de mágica, passando por malabarismo de bolas que desaparecem e reaparecem em outro lugar e até mesmo uma galinha de brinquedo que bota ovo. A criançada, por sua vez, vai interagindo de forma ferrenha às trapalhadas do personagem. 

Em vários momentos, Raphael faz uso de forma assertiva da interação com o público (fica claro que a participação e comunicação da plateia é fundamental para dar ritmo e dinamicidade ao espetáculo), escolhendo alguns pequenos para participar do número de mágica. Posso dizer que são nessas horas que o artista consegue concentrar o máximo de atenção possível daquelas crianças – é possível ver um olhar atento e curioso. Para os adultos, há um deleite em ver os seus filhos sendo encantados por todo aquele universo cênico e lúdico. Durante cerca de 1 hora de apresentação, o artista fez malabares e mostrou jogo de cintura para lidar com os pequenos de forma chamativa, que por sua vez reagiram bem às interações. 

Os truques de mágicas, na grande maioria, são simples e alguns já conhecidos, porém são bem executados e usados de forma apropriada para as situações que o personagem se propõe a contar em cena e para o público alvo infantil. Não existe uma linearidade na história, na verdade, não existe um enredo engessado, são improvisos que vão sendo acometidos conforme as pessoas vão interagindo, consequentemente cada espetáculo pode ter um elemento surpresa a ser desbravado.  

Se por um lado não se dá para prever a reação do público diante dos números propostos por Santacruz, do outro, a junção do cômico e mágico não é uma surpresa nessa peça, visto que o próprio artista já desenvolve esse tipo de trabalho há anos, utilizando esses mesmos ingredientes.  No entanto, o espetáculo “O Matuto” mostra a sua grandiosidade ao se ancorar na cultura popular nordestina para contar a saga desse mágico retirante, junto com uma trilha sonora que enaltece o xaxado, forró, coco e cavalo-marinho. O personagem também toca instrumentos típicos, como o pífano e o pandeiro. Fica perceptível na peça, inclusive, que o próprio artista, nascido e criado na cidade de Caruaru, no agreste pernambucano – conhecida como a “Capital do Forró” e “Terra de Mestre Vitalino”, bebeu da fonte das suas origens desde cedo, por isso também o nome “O Matuto”, referenciando ao termo popular como é conhecido as pessoas que são do “interior” do estado. 

Em um mundo tomado pela globalização, onde existe uma massificação dos hábitos e costumes; representando em muitos aspectos uma perda de identidade cultural, o espetáculo vai na contramão desse fluxo e enaltece a cultura popular, apresentando esse universo (até distante para alguns e ainda não explorado) para aquela plateia, na qual, consta ali presente, o futuro da geração: a criançada. Esse contato com as manifestações artísticas e regionais desde cedo, mesmo que de forma subjetiva e pincelada, é valioso e sem dúvidas vai fazer diferença para que haja uma perpetuação e disseminação do bem cultural. 

Era uma tarde de domingo nublado e no corredor do Mercado havia uma movimentação de famílias, amigos e crianças. Após o espetáculo, fui tomado por um misto de sensações. Primeiro de nostalgia, porque revisitei o contato com o lúdico, a partir do espetáculo infantil. Depois de esperança, ao presenciar um pouco da cultura popular sendo apresentada para uma plateia repleta de crianças. E em seguida, a sensação de certeza, certo de que rir será sempre o melhor remédio. Isso só reafirmou ao ver da forma mais genuína o sorriso e alegria daquela plateia.

E ao final restou um desejo: por mais espetáculos infantis que tragam essa magia e alegria, por mais espetáculos que valorizem a nossa cultura.

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Rosemay Vitorino
1 year ago

Tenho muito orgulho desse garoto que sonhava e brincava com mágica hoje sendo esse artista que traz a magia misturada com toda sua raiz e com toda sua essência de amor, humildade, dedicação, alegria e o reunindo tudo isso com o prazer de vê o sorriso no outro. Parabéns meu filho! vc é o resultado do ser lindo que és.Vc se permitiu ser a sua essência. 😘

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