Foto: Anny Stone
Por Paulo Ricardo Mendes
A Mostra está prevista para acontecer entre os dias 9 e 12 de janeiro.
Entende-se como liberdade de expressão, um direito inerente ao ser humano, garantido pelo artigo 5º, da Constituição Federal de 1988. No entanto, como proceder, quando essa garantia não é posta em prática em nossa sociedade? A saída encontrada por alguns artistas, diante da censura do espetáculo O evangelho segundo Jesus, rainha do céu, da atriz Renata Carvalho, no Janeiro de Grandes Espetáculos desse ano, foi criar o Janeiro Sem Censura, com o intuito de dar visibilidade e voz às encenações que foram alvo de retaliações. Passado quase um ano desde o ocorrido e da estreia do projeto, o grupo Agridoce planeja a segunda edição da Mostra, prevista para acontecer entre os dias 09 e 12 de janeiro de 2020.
O movimento, organizado por Aurora Jamelo, Flávio Moraes, Igor Cavalcanti, Nilo Pedrosa e Sophia William, já iniciou as reuniões com outros coletivos e artistas para planejar as ações para o próximo ano. O primeiro encontro foi no domingo (24), no qual, foi um momento de apresentar a missão do evento e ter o primeiro contato com os interessados em conhecer e contribuir com o Janeiro.
“A nova edição toma proporções diferentes, pois ela está sendo pensada, com o objetivo de abraçar espetáculos censurados e possíveis trabalhos que podem ser alvo de retaliações pelos conteúdos divergentes aos impostos pela sociedade. Diferente da primeira, que acontece com o objetivo de juntar pessoas que se incomodaram, e que tiveram empatia com a situação, na busca por alternativas para driblar a censura ao espetáculo de Renata Carvalho”, explica Nilo Pedrosa, integrante do grupo.
Vale ressaltar, que nesse ano, além do Evangelho, outros dois espetáculos foram alvo de censura: Abrazo, do grupo de Teatro Clowns de Shakespeare, de Natal (RN), que foi proibido de se apresentar na Caixa Cultural Recife e a Mulher Monstro, da trupe Sem Cia. de Teatro (PE), que estava prestes a fazer sua reestreia no Festival de Curitiba, mas foi impedida pela Prefeitura da Cidade. Ambas encenações tinham o enfoque voltado para questões políticas. Já a polêmica em torno da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, se deu, porque a atriz que interpretava Jesus era uma mulher transexual, sendo criticada pelos que defendem o fundamentalismo religioso.
Para a atriz Sophia William, infelizmente ainda a liberdade de expressão só pode ser exercida livremente quando o que está sendo posto vai de encontro a um padrão aceito pela sociedade. “É a partir de casos como esses que a gente começa a entender que o direito à liberdade de expressão é velado a corpos que fogem da normatização. Nessas ocasiões, a censura vem com tudo, não só em festivais, na vida”, lamenta.
A programação do Janeiro Sem Censura ainda está sendo montada pelos curadores Flávio Moraes e Aurora Jamelo, com previsão de ser divulgada até o início de janeiro. A escolha tem sido feita em contato com alguns grupos, cujos trabalhos dialogam com a proposta da Mostra. Entretanto, caso os coletivos e artistas estejam interessados em propor performances e trechos de espetáculos podem procurar o Agridoce (@teatroagridoce) nas redes sociais.
A segunda edição será no modelo pague quanto puder, e o dinheiro arrecadado será destinado aos grupos que se apresentaram. Já o lucro das outras atividades oferecidas pelo evento, será reservado para as próximas ações do movimento. “Para o segundo ano, estamos contando com parcerias de alguns espaços, de artistas, produtores e técnicos que quiserem oferecer algum tipo de serviço”, conta Sophia.
1º edição – A estreia em 2019 do movimento contou com apresentações teatrais (Água Dura e AI5, do Coletivo Rua das Vadias; Trans(passar), por Sophia William e Aurora Jamelo; e Meia-noite, de Orun Santana. Além disso, algumas ações foram realizadas nos três dias do Janeiro, como a Caminhada pelas Vidas Trans e a Audiência aberta para debater sobre o direito à liberdade de expressão e criação artística.