O Olho Que Olha Também É Visto – Crítica de “Aquilo Que O Meu Olhar Guardou Para Você”

por Vendo Teatro
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Por Luiz Diego Garcia
Recife, Outubro de 2019

O Olho Que Olha Também É Visto

“Não há coincidências, apenas o inevitável”
XXXHolic

Nenhum dos atores estava atrás de uma cortina. Não há o apoteótico momento de entrada, nem mesmo vemos a fina e acadêmica quarta parede. O teatro acontece do lado de cá, do lado que acontece a vida, enquanto acontecem a vida e o teatro, acontece o “Aquilo Que O Meu Olhar Guardou Para Você”, espetáculo do Grupo Magiluth, que completa quinze anos de estrada comemorando da forma que mais o sabem fazer: no palco, na plateia, no quisto encontro artístico. Buscando tal encontro – mais – tais encontros – o grupo dispõe desde o começo de regras claras, de fitas no chão circunscrevendo no espaço o próprio círculo de giz caucasiano – e que comecem os jogos, que se rompam as fitas, que se pule de olhos fechados nas piscinas.

A premissa do texto assinado por Giordano Castro, também ator do espetáculo, é ampla, mas precisa nas suas escolhas. A partir do texto, do seu pout-pourri de individualidades, a dramaturgia é criada em grupo enquanto o grupo cria a cena. Não é sabido até onde vai a individualidade da criação do grupo na cena, de uma ligação materna ou a carta a um pai –  que fora pouco pai – até mesmo a uma conversa tida com um deus, possivelmente o católico, que desprende inúmeras reações universais a figura histórica do Impositor; mas é visto que, seguramente, o elenco está disposto a jogar o jogo proposto. Pouco importa a veracidade biográfica do que está em cena, é crível o trabalho de alquimia entre o texto falado e o texto escrito no corpo do grupo; até a Verdade está em cena, assim como a História.

É minucioso o jogo jogado enquanto se joga o jogo proposto.

O elenco hoje formado por Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner está em cena se divertindo e preciosamente sabendo o quão necessária é a qualidade da presença cênica que essa diversão proporciona. Atravessando as provocações da encenação propostas pelo paulista Luiz Fernando Marques, do Grupo XIX, a interatividade também provocativa ganha no corpo do espetáculo um semblante jovial: são inquietações de uma inicial fase adulta que, junto com o grupo, amadureceram e seguem amadurecendo. Saber que o espetáculo fora criado há sete anos do corrente ano dá ao espectador um vislumbre temporal do que o próprio grupo atravessou nesse tempo.  Quão precioso deve ser ao grupo contar dentro da História sua própria história. E quão mais preciosa é a interação do elenco com seu público.

Saudoso, jovial e elétrico é aquilo que o olhar do Magiluth guardou para Recife, e para os recifenses, encontrando-se, mais uma vez, universalizado devido à tamanha cumplicidade que o teatro proposto pelo grupo tem com a cidade, com seus moradores, e com a sua própria História, possibilitando, lado a lado com a História do Teatro Pernambucano, uma História do Teatro Magiluth. Inevitável.

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