Encantos e Ensinamentos nas Páginas do Livro da Alegria | Crítica de O Livro da Alegria

por Vendo Teatro
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Foto: Divulgação

“A arte existe porque a vida não basta”
Ferreira Gullar

Imagine embarcar na história de um livro mágico a partir de um teatro-musical? Essa é a proposta do espetáculo “O Livro da Alegria”, da Pirilampos Produções e Entretenimento, vindo da cidade de Vitória de Santo Antão. Ele foi o ganhador do Prêmio Roberto França (Pernalonga) de Teatro em 2024 e se apresentou no Teatro Hermilo Borba, no Recife, dentro da programação da 31ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos.

A história conta a jornada de um jovem músico do interior de Pernambuco, Luizinho, cujo sonho é levar seu talento para o mundo. Entretanto, para que ele possa obter o sucesso desejado, precisará passar por vários obstáculos, envolvendo seres mágicos e travessias arriscadas. Tudo isso, embalado por músicas e dança. Sendo assim, durante a apresentação, o público assiste à jornada do pequeno sonhador e interage em alguns momentos com a narrativa, por meio das provocações dos atores, principalmente para a criançada.

O elenco é formado pelo ator Weslley Wolf, André Santos, que também dirige o espetáculo, e pela atriz Kenya Taynara. Eles interpretam vários personagens ao longo dos quarenta minutos de peça. Entre eles, há artistas mambembes e fantoches que ganham vida pelas mãos dos atores, como o próprio Luizinho e a lagarta. A direção geral fica por conta de Cleiton Carlos, produção de André Albuquerque e sonoplastia de Emmanuel Artur.

O figurino, ao mesmo tempo em que brinca com a imaginação e a fantasia, com os chapéus enfeitados com livros, também remete a outra época, especialmente ao século XVIII. Observam-se vestimentas de cores claras, como as de tons pastéis quentes e dourados. A atriz usa um vestido volumoso e a cintura bem marcada, enquanto os atores vestem casaco e calça bufante. A iluminação desempenha um papel fundamental na construção dessa narrativa, criando uma atmosfera alegre e colorida.

Envolto nesse universo mágico, o espetáculo faz uso de efeitos visuais, de poesia e de muita criatividade, com o intuito de tornar tudo ainda mais lúdico e encantador. E parece que consegue. Da parte superior do Teatro Hermilo Borba Filho surgem bolhas de sabão, que vão se espalhando pelo palco; de dentro das páginas do livro, emergem tubarões, pássaros, e o próprio livro se transforma em um barco para que Luizinho possa navegar em busca do seu sonho.

Certa vez, eu estava participando de uma palestra promovida pela Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, e, na ocasião, profissionais da educação discutiam sobre a importância da mediação e do livro na formação de crianças e adolescentes. Principalmente, para possibilitar a formação de leitores e adultos conscientes e críticos em relação às mais diversas questões. Foi mencionado também o quão frutífero pode ser o contato, desde cedo, com a literatura e a arte, visto que essa aproximação desperta a criatividade, a percepção do mundo e, consequentemente, expande o repertório.

Em “O Livro da Alegria”, o público pôde presenciar, na prática, o mar de possibilidades dessas duas linguagens. Por meio da história de Luizinho, que poderia ser a de tantos outros jovens que mantêm aceso dentro de si um sonho, o espetáculo propõe uma reflexão acerca das nossas raízes, mas também sobre a importância de acreditar nos sonhos e no poder transformador que um livro pode ter. É um espetáculo valioso pela sua proposta e pela sua mensagem. Ao final, vemos a literatura e as artes cênicas juntas, transformadas em uma montagem alegre e encantadora para o público infantojuvenil.

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André Santos
1 mês atrás

Que coisa linda! Agradeço a crítica tão rica em detalhes e fico feliz em ver o quanto essa história pode deixar o público encantado!

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