O Colorido da Vida e Suas Memórias | Crítica de Ensaio do Agora

por Vendo Teatro
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Foto: Morgana Narjara

Lembro-me como ontem, fui ao Marco Zero da cidade do Recife, até a Caixa Cultural, naquele dia estava muito quente, mesmo à noite, o trânsito era super intenso até o centro da cidade. Fiquei pensando que não conseguiria chegar, entretanto consegui chegar são e salvo. Confesso que fiquei um pouco enraivecido pela dinâmica de mobilidade, mas contente pela oportunidade de assistir ao espetáculo documental “Ensaio do Agora”.

A encenação realizada pelo Memória em Chamas, fez parte de um projeto intitulado “Contornos do tempo”, e foi construída a partir de conversas que foram feitas com um grupo composto por nove mulheres idosas com mais de sessenta anos em diálogo com a obra da escritora Sylvia Plath – romancista, contista e poetisa norte-americana, conhecida por escrever diários sobre sua vida desde a infância. O projeto “Contornos do tempo” deu frutos: “Ensaio da memória”, um filme, “Ensaio do efêmero”, um ensaio fotográfico e um livro, que ainda está em processo de elaboração.

A dramaturgia, encenação e elenco são de Natali Assunção, Analice Croccia e Domingos Júnior, que também é responsável pela criação de luz e vídeo. O trabalho foi idealizado por Natali Assunção, com figurino de Gabriela Holanda, costurado por Patrícia Duarte, Juliana Rodrigues na operação de áudio e vídeo e Duda Araújo na produção.

O espetáculo é bastante fluido e intuitivo, os atores recepcionaram a plateia e em dados momentos interagiam conosco. Existiam diversos estímulos durante a encenação, havia projeção de filmes sobre a vida e vivência de pessoas no telão que ocorriam em dados momentos no decorrer do trabalho. Havia em cena uma dinâmica muito intuitiva e moderna; os atores filmavam-se em cena e as imagens eram projetadas no telão, tudo que fora exposto no palco foi utilizado, desde a mesa de som até malas, figurinos que eram trocados de acordo com a cena. Havia a presença de áudios que envolviam a todos nós durante o espetáculo, a iluminação primorosa em tons de lilás, azul, amarelo e vermelho, e os estímulos audiovisuais nos faziam adentrar na atmosfera.

Houve um momento muito bonito em que ouvíamos a memória de uma senhora em áudio e eram exibidas no telão cenas de sua vida. Era impossível não lembrar de minhas vivências em família, na casa de meus avós, por exemplo. A memória é elemento latente na encenação e emocionou, não somente a mim, mas a outras pessoas da plateia.

Em dadas vezes os atores dividiram entre eles momentos em que cada um virou apresentador de um programa aos moldes dos talk shows estadunidenses, onde ocorriam competições e eles perguntavam curiosidades para nós. E todos interagiam com o elenco de maneira natural e espontânea. Todo o estresse e preocupação que vivi até chegar ao teatro caíram por terra ao apreciar o trabalho. Os atores, sempre atentos e solícitos ao público, interagiram entre si com organicidade, ótimas projeções vocais e o momento foi incrível.

Vida longa ao “Ensaio do Agora”. Que venham novas temporadas, e que a peça continue emocionando o público por intermédio da valorização de nossos tempos de vida e das nossas memórias, tendo em vista que nosso país a cada ano tem índices de aumento da população idosa. Estimular e proteger o legado dessas memórias é validar a vivência e importância da vida dessas pessoas através da encenação teatral. O espetáculo encerrou-se e depois conversamos brevemente com o elenco, e creio eu que guardarei e levarei para a vida as memórias vividas, descobertas e relembradas a partir da encenação. Evoé.

Vendo Teatro – Incentivo Funcultura 2022/2023
Proponente, coordenadora e criadora de conteúdo: Aline Lima
Produção Executiva: Sabrina Pontual
Críticos teatrais: Luiz Diego Garcia
Cleyton Nóbrega
Lucas Oliveira
Gabrielle Pires
Coordenador crítico: Luiz Diego Garcia
Jornalista: Paulo Ricardo Mendes
Designer Gráfico: Allan Martins

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