Foto: Morgana Narjara
Por Cleyton Nóbrega
Revisão Crítica: Luiz Diego Garcia
Recife, Maio de 2024
Quais são os limites da imaginação? Será que ela tem de fato um limite? Qual motivo nos faz esquecer um pouco os problemas da vida adulta e retornar a agir com a espontaneidade de uma criança? Foram essas questões que passaram por minha cabeça no momento em que tive a oportunidade de assistir ao espetáculo “Quatro Luas” do grupo O Bando Coletivo de Teatro, no Teatro Marco Camarotti, no Recife. “Quatro Luas” fez parte da programação do Festival Palco Giratório – Sesc, um importante evento da cena artística no Brasil, que retornou ao Recife depois de um hiato de 10 anos. A programação deste ano, ocorrendo de 16 de maio a 01 de junho, inclui 46 espetáculos envolvendo teatro, dança e circo, além de oficinas, debates e palestras, entre outros.
A ficha técnica do elenco é composta por Claudio Lira, responsável pela dramaturgia e encenação; o elenco inclui Brunna Martins, Célia Regina, Douglas Duan e Matheus Carlos. Os músicos Zé Freire (violão) e Arnaldo do Monte (percussão) também participam. Douglas Duan, além de atuar, assina a dramaturgia sonora, a direção musical e a preparação vocal. A iluminação é de Eron Villar, enquanto a direção de arte é de Claudio Lira e Célia Regina, que também colaboraram com Romualdo Freitas na criação e confecção dos bonecos, adereços e luas, com a ajuda de Adriano Freitas. A árvore foi confeccionada por Douglas Duan. O registro de fotos e vídeos foi realizado pela Colibri Audio Visual/Morgana Narjara. A produção é assinada por Claudio Lira e o grupo, e a realização é do Bando Coletivo de Teatro.
A encenação é inspirada na obra de Federico García Lorca, um escritor primoroso do século passado, que além de escrever trabalhos para o público adulto, também escrevia pensando nas crianças. Antes mesmo de entrar no teatro, fomos recebidos pela trupe de atores caracterizados de ciganos. O elenco se destaca não apenas na atuação, mas também cantando. Eles surgiram com uma maquiagem bem elaborada e vibrante, convidando-nos a apreciar o espetáculo, que tem além de trilha sonora muito bem construída e afiada, uma iluminação e cenografia bem resolvidas, em tons verdes, azuis, lilases, e amarelo, de fato elaboradas com primor.
A maquiagem e os bonecos são detalhadamente compostos, e de diversos tipos de manipulação, por exemplo, manipulação direta, onde os atores-manipuladores dão vida ao boneco sozinhos e em conjunto, e bonecos de luva, em que se coloca a mão por dentro do boneco para manipulação/atuação.
Federico, o personagem principal do enredo, é um menino cigano que tem o sonho de conhecer a lua cheia, e acaba caindo num poço e embarcando numa trajetória de experiências, regadas por animais falantes e a própria lua em suas quatro fases: minguante, nova, crescente e cheia. Cada uma delas tem sua forma de falar e interagir com Federico. Fiquei refletindo enquanto assistia ao espetáculo que o personagem principal, uma criança muito valente e corajosa, acabou aprendendo com cada uma das personagens que apareciam no seu caminho, todos o incentivando a ouvir o seu coração, que revelaria que tinha o sonho de encontrar a lua cheia.
Foi um momento muito lindo. O espetáculo é esmerado e cheio de minúcias que acabam chamando a atenção e afrouxando os risos das crianças e adultos. De certa forma, a peça nos faz pensar sobre quem somos, e até que ponto ainda temos a altivez e coragem de nossa criança interior para tomar atitudes na vida.
Além de cativar os corações, o espetáculo em suma nos faz viajar para outros mundos. Destaco dois momentos muito bonitos, por exemplo, quando Federico encontra a gata azul. O ator Douglas Duan encantou a todos dando vida ao personagem. A gata é cheia de momentos icônicos e graciosos; a maneira como ela fala e interage com Federico é um dos momentos mais hilários da encenação, assim como o momento em que o cavaleiro, interpretado pelo ator Matheus Carlos, interage com o menino junto ao seu cavalo invisível. As atrizes Brunna Martins e Célia Regina também têm ótimos momentos, interpretando a dupla de senhoras sapo e também algumas das luas que Federico encontra em sua trajetória.
“Quatro Luas” diverte, abre as asas da imaginação e nos convida a refletir sobre a vida e suas instâncias com o olhar generoso, o olhar de uma criança. Para saber o fim dessa aventura, assista, quando puder. Longa vida ao espetáculo e que o grupo continue a emocionar adultos e crianças por todo esse Brasil. Evoé.